Por mais que esse blog tente se desprender das raízes oposicionistas políticas, a atual situação do país me proíbe de ficar quieto. É tanta vergonha junta, que incomoda o fato de poder falar e não o fazer.
O Sr. Luís Inácio anunciou na segunda-feira, 20 de agosto, um novo "pacote" de desenvolvimento para os policiais e a nossa "segurança" pública. Baseado num mapa dos 11 "territórios" mais violentos da país (Vitória, Recife, BH, Maceió, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo, Curitiba, Brasília, Porto Alegre e Belém - do índice mais alto ao mais baixo), o governo bolou planos para diminuir a taxa de homicídios.
A Carta Capital de 15 de agosto de 2007 já anunciava com exclusividade as novas medidas do governo. Na mesma matéria, um artigo de Jaqueline Muniz e Domício Proença Júnior, ambos diretores científicos do Instituto Brasileiro de Combate ao Crime, conta como e porque um policial acaba envolvido com tudo sem perceber quase nada.
O "X" da questão toda está no salário. Porto Alegre, por exemplo, tem a PM com o menor salário do país: R$753 mensais. Reflita, internauta, é possível viver e colocar-se em risco por essa ninharia? Existe alguém no mundo que ame tanto seu país e seu povo a ponto de colocar-se à prova para correr o risco de passar fome? Há quem diga que existe. Mas eu não acredito muito nisso não.
Como pode alguém com R$753 sustentar a casa, locomover-se até o serviço, comer, vestir-se e motivar-se a prestar serviço para a sociedade? Troca de favores. Serviços mecânicos na viatura na mecânica do Paulão, lá na Vila. Em troca, um favorzinho. Passagem livre no busão do Jair. Em troca, mais um favorzinho. Um bico pra completar o salário de fome que o governo paga. Pede-se um favor pra um colega cobrir um turno, pra um superior aliviar o horário de entrada. Marmitex com desconto no "100 Freskuras". Em troca, outro favorzinho. O superior que aliviou a carga horária do soldado que precisa de um bico acaba entrando numa de pedir propina. A troca de favores impede que o pobre policial quase honesto denuncie alguém que o ajuda. O colega que cobre o turno, repassa todos os papelotes de cocaína que apreende em operações na noite, mas não se pode dizer nada, já que ele te quebra um galho.
Viu como se torna um ciclo vicioso? Viu como é fácil, de repente, estar no meio da sujeira sem se ligar? Viu como tudo isso está diretamente ligado ao salário dos policiais?
É preocupante. Fosse só esse problema, seria ainda mais fácil de resolver. Ou pelo menos amenizar. O problema é que ainda tem policial que, além de corrupto, abusa do "poder de polícia". Acaba por agredir gente inocente, levar pra delegacia só pra "dar canseira", bater, matar, acusar falsamente, plantar flagrantes, enfim. Tudo isso porque não recebem direito? Calma. Nesses outros casos é gente que já vem torta desde o início.
Enfim... é difícil falar sobre uma coisa que, apesar de estar diretamente relacionada comigo e com todos os cidadãos, prefiro que esteja tão distante de mim quanto os bandidos. Peço à Deus pra não ter problemas nem com um e nem com outro. Falta de credibilidade da instituição? Talvez. Acho que é mais por não querer confusão. Não devo nada, mas como vimos, é fácil nos enrolarmos sem saber.
Espero que esse plano tenha sucesso. Elas vão "tomar" as comunidades pacificamente. Onde forem aceitos, uns agentes da cidadania vão subir os morros, conversar com jovens, com mães e orientá-los sobre direitos e deveres de cidadão. Onde não forem aceitos, a polícia sobre primeiro. Tapa com luva de pelica. Só não sei quantas outras chacinas ainda aconteceram pra que esse "pacote" seja posto em prática.
Um comentário:
Opa! Cara, valeu pelas visitas e pelos comentários nos meus pitacos. Seja muito bem-vindo por lá, viu?
"O que silencia?" fará parte dos meus linques a partir de agora. E você acaba de ganhar um leitor fiel e chato, devo admitir.
:)
Abraço!
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