29.10.08

Sol de montanha

quando escurece repentinamente, como hoje, subitamente sou acometido por um mal. é o "mal de você". uma espécia de rancor e saudade, de amor e descaso, um misto de desejo e repulsa, a mais pura antítese na mais profunda confusão humana.
você sabe de tão pouco e nada do que eu diga vai te clarear as idéis, pois, essas, são minhas idéias. não há como saber o que você pensa, pois, esses pensamentos também são meus.
mas há como dizer qualquer coisa sem sentido que passe por você. sim, só passa por você. você conseguiu se tornar imune as minhas palavras - sejam lá de categoria elas forem. você escuta e não absorve. admira, mas não deixa te influenciar. você gosta, mas prefere deixar de elogiar.
e eu ainda penso no que te dizer pra te fazer estar aqui de novo, no momento em que eu preciso. em vão, eu sei, mas, qual seria a graça da vida se eu desistisse?
"sol de montanha". eu li isso em algum poema uma vez. e é exatamente o que eu sinto agora. de qualquer maneira, eu estarei sempre coberto por um pedaço seu.

28.10.08

...

"... hoje o sol não quis o dia
nem a noite o luar." - Nem o Sol, nem a Lua, nem Eu - Lenine
 
poema de fim da vida
de dia que não nasce
de noite que não brilha
 
poema de mentira
de amor que não acaba
de paixão que não combina
 
poema de avessos
fogo que não arde
liberdade que sufoca
medo que não intimida
 
poema de brinquedo
se cair quebra
se puxar rasga
se doer termina
 
Aldo Jr.

23.10.08

Jesus não tem dentes no país dos banguelas

a primeira vez que ouvi isso achei que fosse qualquer blasfêmia idiota. coisa de roqueiro-ateu-maluco, Arnaldo Antunes. mas hoje entendi o significado da bagaça.
por default a gente age como a sociedade impõe. alguém que fala qualquer coisa que não seja "Jesus Cristo!", "Santo Deus!", "Nossa Senhora" e que atribua diretamente qualquer adjetivo a um nome santo, será, quase que certamente, crucificado. a blasfêmia, assim como o palavrão - já dizia Dercy Gonçalves -  está em quem escuta.
partindo desse princípio ouvi a música mais de quinhentas vezes. tentei encontrar milhões de efeitos, vozes ou qualquer nota que me disesse alguma coisa. em vão, claro. a mensagem era simplesmente brilhante e estava na minha cara o tempo todo.
JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS
JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS
JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS
e o troço ia repetindo e repetindo e repetindo e me veio um clique mágico à cabeça. desses que acontecem de anos em anos e que na maioria das vezes não passam de um flash que não quer dizer nada. mas esse aí me disse alguma coisa...
"êpa! é claro! lógico! óbvio! como é que não pensei nessa merda antes?"
gritei e chamei meu irmão e pedi pra ele ouvir a música.
JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS
JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS
JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS
"é Titãs, né?"
"é."
"e essa letra é do Arnaldo Antunes, né?"
"é."
"não consigo entender nada do que ele quer dizer cantando essas coisas. eu gostei da música da mina que dispensa o cara..."
"que música é essa?"
"aquela do 'ela goza com a mão, não precisa do seu pau'."
"ah... mas e essa?"
"essa o quê?"
"essa música 'JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS'???"
"ah... não sei. não tem muita graça..."
"presta atenção, mano... é mó mensagem decente. pensa um pouco JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS..."
"ah... esquece, mano... to legal de Arnaldo Antunes..."
e, dito isso, virou-se e saiu do quarto. me deixou lá. eu, o cigarro, um riso de lado de quem sacou a idéia do poeta e a música JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS repetindo zilhões de vezes JESUS NÃO TEM DENTES NO PAÍS DOS BANGUELAS.

claro, não vou dizer qual é a do poeta. cada um no seu quadrado.

22.10.08

the past is a strange place

e vai ser assim pra sempre. mesmo sendo passado, o passado é sempre presente. discordo vêementemente de quem usa o jargão patético do "quem vive de passado é museu". o passado é, acima de tudo, o formador de caráter de qualquer ser humano.
é no passado que estão seus erros e seus acertos. é do passado que você tira base e fundamento para dar os próximos passos. posso até cair em contradição, mas como mudar é natural, eu também discordo putamente do papo de "só me arrependo do que não fiz" - outra mentira que se tornou verdade com base na hipocresia humana. todo mundo diz, mas ninguém encara assim.
eu me arrependo de muita coisa que eu fiz. e se torna paradoxal a partir do momento em que, mesmo sabendo que agi errado, aprendi algo que realmente fez diferença. não preciso citar exemplos, mas se ficar vago, aprendi que AMOR precisa ter limites, e AMAR não. entenderam?
a gente vive de "revival". tudo na vida é reviver. tudo é olhar o que aconteceu antes e, quando o fato não se torna diretamente ligado ao que vivemos hoje, tirar base pra viver o hoje. mesmo sem esperar nada do amanhã. tá confuso, né?! mas é assim mesmo. a chave do negócio é essa aí.
saber o que fizemos, saber o que estamos fazendo e saber o que vamos fazer é simples e puramente suposição. a gente é cheio de planos o tempo todo. "amanhã vou fazer isso cedo, depois isso à tarde e isso à noite". vivemos nos programando mesmo sem saber o que a vida programou pra gente. de repente uma cerveja é muito, de repente é pouco. de repente o caminho de volta pra casa se torna um grande labirinto de desejos perdidos numa boca que você encontrou dentro de um coletivo ao sair do serviço. e aí todos os planos de "vou fazer isso amanhã cedo" acabam morrendo porque "amanhã cedo" você vai estar em outros braços, confortavelmente envolto por um edredon e, tenham certeza, não vai pensar em sair dali tão cedo.
a vida tem várias faces e nós nos acostumamos a olhar uma só: a nossa. isso nos limita a diversas coisas e por muitas vezes acaba nos tirando algum prazer em estar vivo. e aí mora o perigo.
eu não tenho a receita de como olhar as várias faces da vida. cada um faz isso como bem entender. o papo é olhar pra você. olhar o que tem dentro, como está organizado, se está organizado e como ficaria melhor organizado. a mudança SEMPRE parte de nós mesmos. e talvez, de algum jeito, eu esteja vivenciando uma mudança grande na minha vida.

deve ter sido o peiote ou o DMT ou o LSD de ontem.

(a última frase, acreditem, é mentira... inelizmente.)

21.10.08

etnerf arp sart ed odut at

ainda tem muita coisa que eu não entendo. cinco dias de negociação, as reféns em poder de um cara por mais de cem horas e um desfecho patético como esse. o que será que deu errado? eu respondo. no meu ponto de vista. e digam o que quiserem.
dois tiros disparados em direção das autoridades. duas garotas menores de idade em cárcere privado. pergunto: um cidadão desses é HUMANO? um cidadão desses merece atenção de Sônia Abrão, de promotor de justiça, de TV Record? um cidadão desse tem condições de EXIGIR alguma coisa?
a omissão das autoridades exterminou o caso. não tem diálogo? não tem acerto? liga pro senhor governador e pede pra ele convocar uma coletiva, chama toda a putada dessa mídia safada, manipuladora e sensacionalista e coloca tudo ali sentado, escutando sem abrir a boca.
recado do governador do Estado de São Paulo: "senhor Lindemberg, as possibilidades de acordo estão se esgotando. já faz mais de três dias que tentamos, em vão, que o senhor se entregue e saia daí com garantia de vida e direito a um advogado para defendê-lo. essas são as últimas ofertas das autoridades responsáveis. o senhor tem mais um hora pra se entregar ou será expedida imediatamente uma ordem MINHA autorizando o trabalho da PM."
pronto! caso resolvido, simples assim. se o mané não se entregasse, a PM atiraria pra matar e resolveria o caso. mas não... os direitos humanos cairiam de pau em cima de todo mundo, afinal, era só um "jovem, trabalhador, apaixonado".
PRO INFERNO COM ESSA HIPOCRISIA DE MERDA!
isso é de dar nojo. é tosco, feio, sujo e muito, MUITO hipócrita! todo mundo querendo aniquilar aquele filho da puta e meia dúzia de gente que finge acreditar em gente se preocupando com a "integridade" de um seqüestrador? façam-me o favor! e a menina? a família da menina? ela MORREU. MORREU! quais são os direitos humanos pra ela agora? doar os órgãos pra salvar mais vidas que podem cair na mão de um maluco como esse aí e acabarem do mesmo jeito? tudo errado.
ainda me vem brasileiro que mora nos USA, que treina a SWAT e a puta da mãe dele dizer que tem vergonha de ser brasileiro. a porra da Rede Globo deveria ter EDITADO a matéria e calado esse infeliz. ele não tem o que comparar! aqui as leis são outras ele, como "especialista" no assunto, deveria saber disso.
e é perito, psicólogo, comandante, tenente, promotor, todo mundo querendo uma casquinha de tempo na TV, seja lá com quem for. já viram coisa mais absurda que uma apresentadora de TV falar AO VIVO com um seqüestrador? já pensaram nisso? temo que a grande vilã dessa história tenha sido a imprensa. confundem o crepúsculo do céu azul com o pêlo mais crespo do... joelho. sem comentários.
a Record e a Universal são de dar medo. é impressionante o poder que eles tem de esfarelar o caso e bater na mesma tecla o tempo todo. sem contar a direção da emissora que acaba por deixar os apresentadores com cara de fuinha no ar. o Britto Jr. foi OBRIGADO a mudar de opinião cinco ou mais vezes de acordo com o teor da notícia que vinha do "departamento jornalístico da Rede Record". sujo.
e eles vão investigar o GATE! e o Lindemberg pode responder processo em LIBERDADE.

"isso aqui ô ô
é um pouquinho de Brasil ai ai
esse Brasil que canta e é feliz, feliz..."

Deus meu, tende piedade!

à polícia poder de polícia. e a polícia civil que me perdoe: quem eles são? mas que merda! a porra da PM não é do ESTADO. Estado = Instituição. é do GOVERNO, força maior dentro de uma democracia. porque é que a polícia civil quer brincadeira com os militares? onde está o tal respeito? onde está o tal governador que DEVERIA PROTEGER AS FORÇAS ARMADAS DO ESTADO? senhor Zé Serra omisso pra cacete!

não gosto de falar de Brasil não, mas não dava pra deixar passar...

20.10.08

...

"liberte-se", ele disse, me empurrando um pedacinho de cartolina verde água.
"que porra é essa?"
"candy."
"até onde eu sei, isso é música do Iggy Pop com a mina do B-52's."
"to falando sério. liberte-se!"
"me libertar do quê?"
"das correntes da sanidade."
"e desde quando eu uso correntes de sanidade?"
"desde sempre. esse seu jeito 'porralôca' é só uma maneira de tentar ser diferente e..."
"você força. força demais. não tento ser nada. to simplesmente voltando a ser quem eu sempre fui antes..."
"não vá culpar uma coisa ou outra pelo resto de vida que você se tornou agora. não tem essa. toma isso aí e liberte-se. vá! uma vez só e você nunca mais precisará voltar a ser o que você é agora."
"mas não me interessa nenhum pouco deixar de ser o que sou agora."
"isso porque você é orgulhoso pra caralho."
"isso porque tenho motivos pra me orgulhar, palhaço!"
"ah... faça-me o favor! deixe as pidas pra mais tarde, depois que isso dissolver na sua boca."
"não to afim, velho. é sério..."
"tá sim. você sempre tá afim de uma testadinha qualquer nos seus limites.. no fundo, no fundo, você sente prazer em ser um beberrão de primeira linha e um protótipo tosco de junkie bem intencionado. ainda faz pinta de intelectual com textozinhos baratos num blog de quinta!"
o filho da puta disse isso e riu de mim. eu peguei o troço e enfiei na boca, em cima da língua.
"isso, mané! agora espera... espera e não precisa me agradecer." - voltou a rir de mim, colocou a cartola novamente e sumiu na neblina.

(provavelmente continuará um dia.)

15.10.08

You know I'm no good

nunca li a tradução da música. mas consigo traduzir o nome, pelo menos. na verdade não sei se "sabem que eu não sou bom" - nem eu sei se não sou bom. sei que, como todos os humanos, eu também não sou perfeito.
sofro, choro, sinto raiva, ódio, tenho ataques de histeria e vários vícios mal explicados - nada de TOC, por favor. a verdade é que muita coisa ainda me vêm à cabeça e várias dessas coisas estão ligadas ao prazer de ver alguém que te fodeu se foder mais tarde. nada é mais recompensante que isso, fala a verdade?
então, queridos leitores que insistem nesse blog, escrevi algo que expressasse minha raiva. algo que fizesse sair de mim toda a minha vontade de olhar pra alguém e vê-lo se fodendo, dar de ombros e sair rindo, com um belo gole de bourbon de alta qualidade.
ei-lo:
 

e é essa merda de fim?

eu ter me dado desse jeito

me entregado desse jeito

pra você agir assim?

você é uma estúpida.

uma puta duma vadia estúpida!

vai fingindo que não vai sentir

vai pensando que é fácil, que será fácil

amor igual à esse aqui, honey, não se encontra por aí não

e quando você estiver se fodendo atrás de qualquer braço

onde não te caiba como você sempre coube em mim

o vento mais gelado do frio mais humilhante

cortará seu rosto e te deixará com lágrimas frias nos olhos

com as mãos trêmulas você sentirá seu ombro curvado

frio, magro, sem força

você vai chorar, vai praguejar contra a sua escolha

vai falar mal de você, vai beber, se drogar, se acabar

sem modéstia alguma, eu posso ver seu fim

posso te ver pedindo por misericórdia pra encontrar um lugar pra dormir

um ombro pra chorar e quaisquer palavras chulas como essas pra escutar.

você vai se lembrar de mim e se sentirá um nada por isso

a escolha foi sua

as minhas loucuras todas pra tentar te trazer de volta eu já fiz

as chances, quantas, já desperdiçou - jogou tudo fora

você me mandou embora. e eu te tirei de mim

sem sarcasmo, nem sadismo, sou desprovido disso

não quero te ver sofrendo por aí

então, caso essa profecia se confirme

suma da minha vista. eu não mereço.

9.10.08

... Darling you will not ease my worried mind

e lá se foi a noite toda. e é uma pena - poderia ter durado quatro dias.
quando eu digo que não esqueci e que ainda sei de todos os cheiros, gestos, gostos e o jeito que os lábios dela ficam gelados enquanto ela geme, eu não estou mentindo. ela continua a mesma. ainda bem.
confessei a ela as minhas segundas intenções logo que nos encontramos. e ela riu. e confessou que a intenção dela era realmente me arrastar pra casa dela. e eu ri.
bebemos alguma coisa. e, pela primeira vez, não foi muito. bebemos o bastante pra relaxar ainda mais e descontrair mais o clima que já era descontraído demais - pensem que num dos nossos beijos o bar gritou "u-hu" e bateu palmas. e é a mesma coisa. o jeito de beijar, de pegar, de apertar. realmente inesquecível. e nem tem porque tentar esquecer.
o papo fluiu legal. ela ainda tem os segredos guardados nos pedaços (muitos) de papel que mandei à ela a muito tempo atrás. e ela os lê até hoje. e ri até hoje. o jeito que ela explica como gosta de mim, como me quer perto dela "mesmo que seja só pra sair mesmo, sem se pegar". EU DUVIDO. o dia que sairmos juntos e não "nos pegarmos" é porque realmente não existe nada mais entre a gente. nem esse tesão, essa paixão, esse fogo, esse desejo incontrolável de morder, apertar e ouvir gemendo. é, ela é realmente bem interessante.
não tem muito o que dizer. aliás, não preciso dizer muito à respeito dela. é sempre bom ter colo quando se precisa. e é mais lega dar colo quando alguém precisa.

8.10.08

You got me on my knees...

o dia estava mais cinza que de costume. muito mais cinza que o tom de cinza que eu gosto. e estava frio, garoa fina que corta o rosto, braços curzados e óculos respingados de gotinhas frias, gélidas, transparentes e chatas. era um dia chato. mas havia a esperança iminente que poderia melhorar a qualquer momento. mas pra isso eu tinha que esperar.
aconteceu ontem. na verdade já vinha acontecendo. essa minha solteirice tem me prejudicado em alguns pontos. mas, pesando os prós e os contras, é bom estar solteiro. sem dúvida.
foi num dia frio, menos que esse, num bar depois do serviço. fui beber com um amigo, conversar da vida, das coisas, das mulheres e das últimas novas a respeito da vida sexual alheia. mas fui acometido por uma onda súbita de carência. e realmente senti saudade dela. resolvi, sem mais nem menos, ligar pra dizer oi. caiu na caixa postal.
"é... oi. você sabe quem está falando, não vou dizer quem é. só queria dizer oi mesmo, dizer que estou com saudade e queria te ver. to precisando de colo. beijo."
e colou. ela me mandou mensagem no dia seguinte, me desejando bom dia. de lá pra cá temos nos falado com freqüência. ontem, por exemplo.
"e aí moço?"
"tudo bem e vc?"
"bem também."
"legal... e vamos mesmo sair essa semana?"
"amanhã é um bom dia, não?"
"ah, é. sempre é bom sair com você. só to tomando remédio, não dá pra encher a cara."
"nossa... esse final de semana eu passei mal. saí pra conversar com um amigo, mas, quando ele começou eu vi que a noite ia ser longa e resolvi comprar uma garrafa de conhaque."
"nossa. conhaque é foda..."
"você já tomou uma garrafa de conhaque comigo!"
"ah... mais fácil dizer o que nós não tomamos juntos. do whisky a cachaça, passamos por tudo."
"é. whisky mesmo nem tanto!"
ela ria espontâneamente como sempre foi. e ela tem uma risada aconchegante, por assim dizer.
continuamos tecendo um diálogo que ia do céu ao inferno em diversos momentos engraçados e diferentes. acho que nunca conversamos tanto sobre coisas tão superficiais como fizemos no telefone ontem. achei diferente.
o final da coversa ela arrematou com aquele jeito direto de falar o que pensa sem pestanejar.
"tudo bem então, nos vemos amanhã."
"certo. onde?"
"perto da sua casa mesmo. mas não tão perto!"
"entendo. beleza, nos falamos!"
"tá eu ligo amanhã ainda. mas... já vou avisando: se tiver com segundas intenções, saiba que engordei um pouco porque parei de usar os baratinhos..."
eu ri. ri muito e disse que tudo bem, que não tinha nada a ver. mas sabia que não era esse o final do diálogo. ela foi direta como sempre, mas estava na hora de eu ser direto também, mas já tinha perdido a oportunidade.
a resposta correta seria "mas você está com segundas intenções também?". mas me calei. embora estivesse com segundas intenções. ou melhor, embora ESTEJA com segundas intenções. creio que ela não tenha virado uma bola. ela sempre exagerou em relação à seu peso. e de besteira.
me lembro bem de seus atributos físicos. de seu cheiro. seus cabelos, seu toque, sua voz, seu hálito, o modo como seus lábios ficavam gelados enquanto ela gemia com a boca aberta me apertando contra ela cada vez mais forte. é por lembrar de tudo isso que senti saudade.
foi um amor bem vivido. a nosso modo, mas bem vivido. descobrimos muita coisa juntos e muita coisa a nosso respeito. preferências, segredos, o jeito de tocar, de apertar, de sentir. brigamos, exageramos, choramos - ela deve ter ainda com ela os nossos maiores segredos escritos num papel. ou em vários papéis.
são muitas coisas juntos. muito tempo juntos. a última vez que nos vimos e demos corda às nossas segundas intenções já tem bem uns três anos, eu acho. foi num intervalo que tive com minha ex-quase-esposa. não dá pra dizer não. é maior que nós. por respeito mesmo é que não fodemos com todos os nossos relacionamentos juntos. evitávamos qualquer contato e qualquer garrafa de vinho tinto barato. sempre foi melhor assim.
mas hoje, hoje é diferente. estamos os dois afim de colo, afim de afinidade. nem que seja só pra passar frio juntos e se aquecer pelados embaixo de um cobertor vagabundo. ou só pra abraçar e beijar na rua com gosto de vinho barato. hoje é pra curtir, rir e relembrar o que fomos um dia e jamais voltaremos a ser - e ela ligou.
deixa o desfecho da história pra amanhã. pode ser que o recado no telefone agora não seja dos melhores. ou pode ser que eu tenha motivos pra parar de falar e deixar mesmo pra escrever mais tarde.

3.10.08

Sexta...

Voltei à estaca zero: não tenho nada pra escrever.

Mas citarei o mestre Chico que, com sabedoria, resumiu em duas das estrófes de "Futuros Amantes" algo que completa o post de hoje. E talvez explique um pouco do meu estado de espírito.

"Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar

Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você"

Is Friday and I'm in love.

Até a volta.