26.11.08

Paralelas

"... não tem revolta, não

só quero que você se encontre

saudade até que é bom

melhor que caminhar vazio

a esperança é um dom

que eu tenho em mim

eu tenho sim

não tem desespero, não

você me ensinou milhões de coisas

eu tenho um sonho em minhas mãos

amanhã será um novo dia

certamente eu vou ser mais feliz" - "Sonhos", Caetano Veloso.

 

"mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma

até quando o corpo pede um pouco mais de alma

a vida não pára...

será que é tempo que lhe falta pra perceber

será que temos esse tempo pra perder

e se quer saber, a vida é tão rara" - "Paciência", Lenine.

 

"... aliás, aceite uma ajuda do seu futuro amor

pro aluguel

devolva o Neruda que você me tomou

e nunca leu

eu bato o portão sem fazer alarde

eu levo a carteira de identidade

uma saideira, muita saudade

e a leve impressão de que já vou tarde" - "Trocando em miúdos", Chico Buarque.

 

Em três atos: começo, meio e fim.

25.11.08

Do amor louco (ou do fim do mundo)

É bom te amar assim, em segredo.
Te amar sem que ninguém saiba. Sem que ninguém pense.
É bom porque ninguém julga, ninguém tenta medir.
Eu te amo, nós nos amamos e fica só por isso. Nós por nós mesmos.
Um amor nosso. Exclusivo.
Ninguém mais sabe, ninguém mais vive, ninguém fuxica.
Esquenta quando queremos que esquente e esfria quando tem que esfriar.
Tem força pra explodir e tem cautela pra despistar.
Tem vontade de viver. E luta pra persistir.
É bom te amar assim.
Amo quando posso e quando não posso luto pra esquecer. Fingir que esqueci.
A gente alimenta, ele cresce. A gente educa, ele evolui. A gente dispersa, ele invade.
É bom amar com cuidado. E eu preciso cuidar de você pra continuar te amando. E tenho quase certeza que só perdura assim porque esse é o combustível: o cuidado que temos um com o outro.
Li um dia que amar é dar-se ao próximo e que relacionamento é a escolha de quem quer fazer alguém feliz e não se sentir feliz.
Não sei qual é a nossa... às vezes me escapa. Mas não me prendo a rótulos. Não preciso saber o que é nem que nome dar. Sei o espaço que ele ocupa em mim. Já basta.
É bom te amar assim. De um jeito que só você entende e que você gosta.
É maior que eu.

24.11.08

Do fim do mundo (ou do amor louco...)

Do fim do mundo (ou do amor louco)

Não sei quem sou eu pra poder julgar ou dissertar qualquer palavra pra falar de amor. Poemas, textos, músicas, melodias ou livros que tentem se aproximar do significado do sentimento mais inexplicável já vivido pelo homem na terra sempre deixam a desejar. Não que não digam nada, mas sempre deixam algo faltando. E será assim sempre. Não tem como resumir AMOR ou AMAR alguém. Cada um ama a seu jeito... mas tem gente que extrapola.

Não quero julgar, como já disse. Não quero fazer piadinha, embora, mesmo sem intenção, esse texto comece a ficar bem humorado desde já. Mas a verdade é absoluta: o Marcelo Camelo está surtando!

Ele é prova viva do que é orgulho ferido. Após o recesso anunciado do Los Hermanos, cada um dos seus integrantes se dedicou a um projeto. O Amarante com a Orquestra Imperial, com Devendra Banhart e até com integrantes do Strokes. O Medina manda muito bem no blog dele, acompanha vários músicos de renome na MPB e está conhecendo o mundo tocando teclado. O Barba tem o Jason, muito boa banda também. E o Marcelo Camelo... bem... o Marcelo Camelo é o Marcelo Camelo.

Primeiro veio o disco solo. Um flerte entre surrealismo e Los Hermanos. De fato é um disco que não caberia na banda. É bom, porém, "avarandado" demais. É leso, lento, cansativo. Como se não bastasse, deu pra fazer shows de chinelo, violão e banquinho - um Juca Chaves acariocado. Com o perdão do neologismo.

A crítica não caiu matando, mas umas matériazinhas pertinentes trataram de dar uma sapecadinha no músico. Tudo bem... acontece. Mas aí veio "Os Imprevisíveis". Essa sim! Um misto da banda do Chaves (como classificou muito bem o Marco) com porra nenhuma. Barulheira infernal e descompromissada. Sem mérito algum... bem pelo contrário. Mas não parou por aí...

Ele foi pra internet e fez uma "orquestra" com vídeos do youtube. Nesse momento ele já se dizia maestro e teve a infelicidade de responder com uma piadinha sem graça a pergunta já sem graça de um jornalista do O Globo:

"- Qual o objetivo da orquestra?
- Dominar o mundo."

U-hu! Há tempos não vibrava tanto...

Mas hoje a bomba deu-se por completo. Marcelo Camelo, músico conceituado, cabeça ativa de uma das maiores bandas da atualidade, não está em seu juízo perfeito. Volto à dizer que não quero dizer que não é amor e nem julgá-lo por amar (ou não) a pobrezinha recém-lançada diva do folk nacional (!?), Mallu Magalhães. É que é coisa de louco!

Louco é pouco! Isso pra um ser humano normal seria, ao menos, pedofilia. Ela tem 16 e ele 30! O que será que eles conversam? O que será que eles sonham? Quais os planos que eles fazem? Casar? Ter filhos? Ou será que ele tá xavecando pra deflorar a pobrezinha? O que é que deu no Camelo? Seria o fim do mundo? Eita Jeová!

Eu que não entendo mais nada! Eis o que orgulho ferido pode causar em humanos antes considerados brilhantes. Ele tá se enfiando na lama! E sozinho! Daria o mundo pra ouvir o que o Amarante e o resto do Hermanos pensa disso... é coisa de louco mesmo... sem comentários.

Deixo aqui meu apelo urgente ao pessoal do Los Hermanos: LIGUEM PRA ELE AINDA HOJE! Peçam pra se reunir, pra tentar voltar, pra gravar um Acústico! Se ele continuar nessa de não ter nada pra fazer e querer brigar o tempo todo por mídia, não sei o que acontecerá. É imprevisível (juro que isso não foi um trocadilho)... o mais aceitável agora, seria, no mínimo, uma parceria com o Amado Batista, Agnaldo Timóteo ou sei lá o quê...

PuLtaqueoparil!

18.11.08

SOLITÁRIO
Augusto dos Anjos

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta...
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
-- Velho caixão a carregar destroços --

Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!

11.11.08

Rabiscos...

Risquei três palavras e elas ganharam vida. Foram se multiplicando com ritmo, métrica, rima...
 

eu quero mais e quero sóbrio

quero poder ver o que faço

onde chego, o que provoco

 

eu quero mais e quero louco

de qualquer coisa, sentimento

ódio, amor, tesão, desespero

 

eu quero mais e espero tudo

quero viver o inevitável

flertar com o impossível

sonhar com o inefável

 

eu quero mais e quero intenso

intenso como eu fui

intenso como eu sou

intenso como te desejo

4.11.08

De um mestre...

"Assim como lavamos o corpo deveríamos lavar o destino, mudar de vida como mudamos de roupa - não para salvar a vida, como comemos e dormimos, mas por aquele respeito alheio por nós mesmos, a que propriamente chamamos asseio.
Há muitos em quem o desasseio não é uma disposição da vontade, mas um encolher de
ombros da inteligência. E há muitos em quem o apagado e o mesmo da vida não é uma forma de a quererem, ou uma natural conformação com o não tê-la querido, mas um apagamento da inteligência de si mesmos, uma ironia automática do conhecimento.
Há porcos que repugnam a sua própria porcaria, mas se não afastam dela por aquele mesmo extremo de um sentimento, pelo qual o apavorado não se afasta do perigo. Há porcos de destino, como eu, que não se afastam da banalidade cotidiana por essa mesma atração da própria impotência. São aves fascinadas pela ausência de serpente; moscas que pairam nos troncos sem ver nada, até chegarem ao alcance viscoso da língua do camaleão.
Assim passeio lentamente a minha inconsciência consciente, no meu tronco de árvore do usual. Assim passei o meu destino que anda, pois eu não ando; o meu tempo que segue, pois eu não sigo."

Fernando Pessoa.

3.11.08

De volta...

Ela voltou. Ela voltou mais forte, mais quente, mais intensa, mais avassaladora que nunca.
Aperta meu peito, reprime meus sentimentos, meus objetivos, meus ideais. Ela invade a minha cabeça e ocupa todo e qualquer pensamento. Me deixa o dia todo ligado à mil. As pernas que chacoalham sem perar, as mãos que não sabem o que escrever, a língua que não profere palavra alguma com sentido. Ela está de volta.
As noites são mais curtas, o sono muito menos intenso. Qualque barulho, qualquer música, qualquer pergunta é o suficiente pra me tirar de onde estou e me colocar de volta a algum lugar do passado. Ela está de volta.
Dessa vez chega a sufocar. É muito mais intenso que antes. E é pior, muito pior. É pior porque, mais uma vez, sei o que fazer, mas não tenho coragem de fazer. Ou, mais uma vez, não sei se estou preparado pra fazer. É tudo confuso. E com ela aqui, a coisa só piora.

Ela voltou e já me ocupa há uns dias. A saudade tá na minha porta mais uma vez e por mais que eu saiba o que fazer com ela, não sei se devo e nem se estou preparado.