21.10.09

A blusa

um homem não pode amar duas mulheres ao mesmo tempo. ele pode amar uma e gostar da outra, querer ter por perto ou coisa assim. falo isso por mim. eu saia com três mulheres desde que me separei a última vez. gostava das três, mas cada uma de um jeito diferente... uma porque era mais gostosa, outra porque me acompanhava nos bares da vida a outra porque era linda e trepava como ninguém, enfim. cada uma com sua peculiaridade, cada uma com seu cheiro, seus modos, seu sexo, seu jeito de gostar de mim. e tudo corria as mil maravilhas, tudo ia muito bem até que um dia minha ex-mulher me ligou. eu senti na voz dela que o tempo que tínhamos dado um ao outro chegava ao fim e que realmente precisávamos muito um do outro agora. percebi que ela tinha vontade de reatar e de tomar novos rumos, traçar novos planos, olhar as coisas com outros olhos. não posso negar em momento algum que amei loucamente aquela mulher. e não posso negar que estava muito fácil ceder a todos esses encantos novamente e retomar um amor que eu jurava estar morto. ou pelo menos morrendo. e foi o que eu fiz. mas fiz do meu jeito: na canalhice.
saia com as quatro garotas, comia as quatro garotas, inventava quatro desculpas, quatro declarações, quatro apelidinhos carinhosos e quatro maneiras de trepar. revezava os dias da semana e reservava um tempo pra cada uma a cada fim de semana. nos outros, eu sempre tinha o que fazer. mas tudo na vida passa e essa febre de fornicação barata passou.
eu comecei a não ver mais graça em todas as meninas, descobri umas trapaças aqui, outras acolá, me senti traído (mesmo traindo todas ao mesmo tempo), me tornei um pouco mais amargo e fui riscando a minha lista. claro, dei prioridade a minha ex-mulher. ela era o que eu queria. pelo menos parecia ser.
tirei a que me traiu primeiro e resisti às investidas dela. a segunda, por ser meio fresca demais e imatura o suficiente pra não entender a minha situação - eu não sou egoísta, só costumo pensar primeiro em mim. a terceira... bem... a terceira eu não consegui riscar de lista. ela me fazia bem, de um jeito ou de outro. estava sempre ali, me queria o tempo todo com ela, me enchia com os problemas que ela criava e não existiam, me pedia solução, não dava um passo sem mim e isso me cativava. sempre gostei da idéia de ter alguém que precisasse muito de mim. mesmo sendo só pro meu prazer e meu deleite - só pra poder jogar na cara de alguém que esse alguém não viveria se eu não estivesse perto.
eu amava de fato minha ex-mulher, mas nutria algo por essa terceira. um carinho, um cuidado. talvez só o fato de precisar dela por mera vaidade, confesso. fiquei com as duas. e estava tudo bem até eu começar a sentir que só o fato de pensar na tarceira já me fazia um filho da puta ainda maior. pior que isso: eu comecei a me sentir errado. mas superei tudo isso num primeiro momento, insisti na idéia e continuei saindo. mas as coisas entraram no eixo do outro lado e eu comecei a fugir da garota sempre. ela percebeu, eu menti. disse um monte de baboseira pra que ela fosse cativada novamente e deu certo. e eu fugi mais. e ela sofreu um bocado e mesmo assim saiu comigo no meu aniversário, me encheu de presentes, me chupou, me fez gozar três vezes, disse que me amava e que queria viver comigo pra sempre. eu não disse nada. e acabou que sumi de novo.
esses dias a encontrei. precisava acabar com aquilo de algum jeito. disse o que tinha pra dizer, a deixei no ponto e ia saindo quando ela me chamou de volta. me disse, olhando nos meus olhos, com os olhos marejados, a boca meio trêmula, "eu me decepcionei muito com você". "você teve sua chance", eu disse, "talvez não tenha aproveitado tão bem quanto deveria" - egoísmo, talvez eu entenda mesmo disso. ela se calou como que engolindo qualquer "vai tomar no cu" que pudesse escapar. "minha maior frustração é não te ver com a blusa que eu te dei". eu silenciei, a beijei no rosto, ela subiu no lotação e seguiu. eu fui em frente, pensando, triste e meio perdido. até que caiu a ficha.
voltei correndo no mesmo ponto, peguei o lotação que vinha atrás, acompanhando a outra apavorado, com pressa, torcendo pra que desse tempo. a vi descer no ponto, dei sinal ainda olhando pra onde ela iria. corri o máximo que pude, me coloquei na frente dela. notei que ela chorava desamparadamente. eu não disse nada. abri a mochila, coloquei a blusa, fechei o zíper, a beijei na boca com todo o sentimento que ainda restava em mim, pedi desculpas por tudo e saí.