28.7.10

Em três atos

e ela liga quase na hora de ir embora. e joga um verde...

- que horas você vai sair?
- daqui a uns 10, se alguém chegar pra me cobrir...
- ah... é que eu precisava ir até ali no metrô, trocar meu bilhete e... é meio perigoso ir até a Brigadeiro sozinha...
- vai até o Paraíso. é mais perto.
- ah... tá... nossa...

desliga o telefone. mas você, macho idiota, mesmo sabendo que não deveria, pega, disca de novo e tenta se explicar.

- olha... não foi isso que eu quis dizer... na real, só quero ir embora no meu horário...
- tá. vai.
 
bate o telefone de novo. você simplesmente se concentra, pega um papel e lembra de uma frase qualquer pra ficar rabiscando como um mantra.

"eu te amo. eu te amo. eu te amo. eu te amo. eu te amo"

e aí o telefone toca. e ela de novo...

- ó... não fiz por mal. desculpa.
- tá desculpada. a filha da puta que ia entrar as 21h não chegou e já são 21h50. de repente a gente pode ir junto lá no metrô...
- ah... tá. passa aqui quando tiver saindo.
- passo.

e a história terá continuidade sempre. mesmo que só lado a lado corporalmente. já tá mais que provado que a distância máxima pemitida entre a gente é até onde os olhos conseguem ver. mesmo que, ao alcance das mãos, o desejo grite, o que ela quer e o que eu preciso é saber, sabe Deus porquê, que um está ali para o outro.

20.7.10

LETTERA

Achei uma carta no ponto de ônibus. Como não tinha destinatário, nem remetente, dei uma reformulada e publiquei, afinal, a problemática é interessantíssima.

A quem interessar, de um desconhecido pra alguém que não nos interessa:

 

existem coisas que não passam. que não curam. que permaneceram pra sempre assombrando. a gente chama de "dúvida" porque não tem outra palavra pra definir o que é de verdade. a dúvida estará lá até que seja descoberta, até que seja sanada. ou até que alguém a responda pra você, mesmo sem querer.

claro, temos sempre que tomar cuidado com o que pensar e em como interpretar nossas dúvidas. é uma faca de dois gumes, mas existe a opção: se enganar pra fingir que não é nada ou então se entregar às consequências, seja lá quais forem.

a gente aprende, cedo ou tarde, que nada é, foi ou será como nossos olhos vêem, viram ou verão um dia. é tudo como a gente quer interpretar e nossa cabeça, talvez nossa maior inimiga, cria expectativas, ilusões, fantasias...

tem coisa que a gente não espera ouvir, ler, escutar... mas escuta, lê, ouve... escreve! não tem volta depois que já foi absorvida por outrem. gostaram do arcaísmo? pois bem... tudo cai feito bomba quando as coisas já não estão bem. e eu juro que to rimando involuntariamente!

as pessoas magoam, são magoadas, sofrem e fazem sofrer. cada um tem seus motivos, não preciso entender os dos outros nem quero que entendam os meus! será que é tão difícil? mas, tudo bem. aí vai:

quando eu disse sim, você disse não. eu passei metade da caminhada sem entender o porquê do não. quando o meu sim se tornou não, você disse sim. culpa minha? não.

as conclusões são as que são agora, não dá pra tentar culpar o passado. eu achei resolução HOJE para o que, "em algum lugar do passado", não TINHA explicação.

e toca o barco. não vai mudar mais nada, tenha certeza.