25.2.11

Amor de plástico

saiu do baile com o sol na cara. sentia a vodka no balançar no estômago vazio enquanto andava sozinho voltando pra casa. quarta-feira de cinzas abafada, pesada, densa. na boca ainda sentia o melado do lança-perfume que cheirou a madrugada inteira e que usava como moeda de troca pra conseguir uns beijos. aquele, de fato, não tinha sido um dos melhores carnavais de sua vida. nem da de ninguém, pensou.
caminhava lento, tentando não balançar demais o corpo pra não vomitar na rua. via um pessoal saindo do salão, ainda com máscaras e fantasias, fazendo farra, bebendo e se sentiu só. pensou em como o ser humano é dependente. e mesquinho. sentiu vontade de chorar, mas engoliu seco. não vai adiantar porra nenhuma, pensou.
lembrou da última que aceitou trocar um beijo por um jato de lança e que acabou trocando muito mais que isso. e baforando muito mais também. ela era bonita, pelo menos na penumbra do salão. não entendia como as pessoas se sujeitavam aquilo, mas não questionava. afinal, eu também to fazendo parte disso, pensou.
sentiu um vazio no peito. parou de andar. vomitou no ponto de ônibus e entrou no primeiro bar que encontrou. pediu vodka, energético, papel e caneta. sentou numa mesa, bebericando e escrevendo. pediu outra dose. e mais uma pra finalizar o energético. comeu um sonho de valsa, comprou um trident pra se livrar do ácido do vomito que estava em sua boca e finalizou o cartaz.
voltou pra rua, colocou os óculos azuis e a gravata borboleta que usava como fantasia e pendurou na camisa o papel, onde lia-se, em letras garrafais:

AMOR DE PLÁSTICO
ALUGO CORAÇÃO PRA TEMPORADA - TRATAR AQUI