20.12.12

Poema Angustiado


É o dia que não começa
E quando começa não acaba
É a tarde que nunca chega
E quando chega passa voando e
Traz a noite que dura dias

Horas que voam quando deveriam arrastar
E arrastaram quando deveriam voar

Dia que dura semana
Semana que dura um mês
Mês que dura um ano
E um ano que dura um século
Um século que eu não sei mensurar

Isso tudo é o medo que me dá
Só de pensar em ter que esperar pra te encontrar

14.12.12

A arte de esperar em vão - eu


A gente não consegue mesmo
se acostumar com certas coisas.
Na maioria das vezes são coisas pequenas
que crescem
inflam
incomodam
e passam a machucar
apertar
espremer
macerar e aí
dilacera.
arranca um pedaço pequeno a cada segundo
num minuto te tirou quantidade significativa
de sentimento
de auto estima
de sanidade
de paciência
e assim, no final de um dia
de todo resquício de esperança.
Vem com a chuva, mas não vai embora com ela.
Nem quando o sol ressurge e as plantas secam.
Isso continua ali e precisa ser expulso
DE QUALQUER MANEIRA.
Aí você respira fundo,
Resigna-se.
Olha em volta, engole o choro
mastiga as palavras que poderiam machucar alguém
cala-se por alguns instantes
corre prum pedaço de papel e rabisca.
Rabisca e escreve um sentimento que te devora à toa.
Ou que você alimenta à toa.
A arte de esperar em vão
É ainda mais vã quando não sabemos o que estamos esperando.

"These words I write
Keep me from
total madness." - Charles Bukowski

15.10.12

Epifania


resolvi escrever pra me sentir vivo de novo. to sufocado, desesperado, semi-morto, completamente lúcido, amarrado dentro de mim mesmo, a maldita jaula física que limita nossos dias, nossa maneira de viver a vida e nos acorrenta a uma sociedade de semelhantes diferenças sutis que nos fazem um só aglomerado de corpos, cabeças não pensantes, mentes hibernantes, caminhando todos os dias pra lugar nenhum tentanto encontrar coisa alguma.
porque acordei de madrugada e vi meu corpo estendido, imóvel na cama, cansado, fudido e frustrado por ter de fazer o que todos fazem numa luta incessante por um sucesso parcial e controlado, um triunfo dos outros, uma vitória de todo mundo que joga o mesmo jogo, luta a mesma luta.
porque estou preso e se eu gritar ninguém vai ouvir e se alguém ouvir não vai entender porque gritar não é maneira de manifestar indignação e sim de manifestar loucura para uma sociedade doente que se julga sã para julgar os insanos.
resolvi escrever para anestesiar a dor que eu sinto.
o medo que acua.
o fracasso que persegue.
a vegonha que derruba.
o presente que me negam
o passado que me condena
o santo, o demônio
o bonito e o feio
a falta de futuro.
o brinde dos enfermos.
o começo do desespero coletivo ao descobrir que o sono que vivemos tende a ser o nosso fim.




"a vida está na concretude da merda que move o mundo
a vida está na indústria impulsionada a sangue humano
a vida é comer e cagar. e logo preciso comer de novo
ou encontrar com quem fazer amor
ou participar da matança geral, ou esfolar um porco
qualquer coisa que me ponha em contato com a vida chamada real..."

Marcelo Rubens Paiva, em "Blecaute".

25.9.12

e a gente segue tentando escrever, tentando acertar, tentando mudar, lutando pra não perder e quase sempre sem conseguir fazer nada.

Rabisco.
Apago.
Rabisco outra vez.
Risco.
Rabisco.

Tudo isso porque não sei escrever.

20.9.12

untitled

o cinza do dia invadiu minha casa
tomou conta das paredes
dos quadros, do sofá
do criado mudo e do lençol da cama

tingiu as flores do para peito
a samambaia da parede
meu maço de cigarros
o bloco de anotações e minha taça de vinho

o cinza lá de fora tingiu minhas roupas
a armação do meu óculos
a cor dos meus olhos, meu cabelo
e o cadarço do meu tênis

mudou a cor da tinta da caneta
das capas dos meus discos
de todos os livros da prateleira

só a tua foto na minha mão ainda tem cor

23.8.12

Sou só eu

estranho pensar que o que penso dificulta o caminho dos outros
mais estranho ainda pensar que as minhas escolhas afetam o caminho dos outros...

não nasci pra dar exemplo
não nasci pra ser seguido
tampouco espero que repitam o que eu fiz
ou o que faço

não sou ninguém
não sou alguém
nunca fui nada...

o que eu carrego em mim, sou eu mesmo
e é isso só

eu
um bocado erros
dois ou três acertos
pelo menos dez mil arrependimentos
sou eu

o que nenhum Deus mudará
o que nenhum vento alterará
eu
só isso

sem mais ninguém
sem mais nada

20.8.12

Fé e desesperança
Crença e solidão
Fé e medo
Ódio e paixão

Amor e descrença
Cabeça e coração
Paciência e desespero
Prudência e impulsão

No silêncio vida
No barulho emoção
Tantas vezes pequeno
Tantas outras campeão

Perco e ganho
Erro e choro
Bagunço, grito e decepciono

Às vezes reconheço
Às vezes ignoro

Às vezes alguém
Tantas outras ninguém....

“Sou eu mesmo, o trocado,
O emissário sem carta nem credenciais,
O palhaço sem riso,
o bobo com o grande fato de outro,

Quanto fui, quanto não fui, tudo isso sou.
Quanto quis, quanto não quis, tudo isso me forma.
Quanto amei ou deixei de amar é a mesma saudade em mim.

Sou eu mesmo, a charada sincopada
Que ninguém da roda decifra nos serões de província.”

Obrigado, Fernando!
(Bethânia cantará o resto de mim com a letra de Caetano...)
O Quereres

19.7.12

não estou acostumado a ficar tanto tempo sozinho.
na verdade sempre me achei um tanto mimado. sempre tinha alguém do meu lado, cuidando de mim, me ajudando a fazer as coisas, resolver meus problemas... agora to desamparado. fudido. esse choque com a vida real é extremamente horripilante. nunca vi nada parecido.
na real, preferia não ter saído de onde estava. afinal, aquilo ali não ia pra frente, mas também não ia pra trás. a gente fecha os olhos e pula sem pensar no que vem pela frente.
"dê o passo que a ponta estará lá"... isso é lorota de monge do Tibet. aliás, é muito fácil pensar nessa profundidade da vida quando se abriu mão de tudo pra viver meditando numa montanha isolada do mundo. quero ver levar a vida a sério aqui embaixo, onde impera a lei do mais forte, a lei do dinheiro, da carreira, da imagem. ninguém aqui embaixo tá dando a mínima pro sentimento, pros valores, pros monges e pra ninguém.
é um mundo de pedra que ninguém encara sozinho. um caos.
lá fora, aqui dentro, dentro de mim e dentro da minha cabeça. um caos.
tormenta.
baderna.
barulho.
nenhum álcool.
oco.

9.4.12


não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto
não consigo expressar o que sinto


consegui.

5.1.12


uma vida acaba. a cabo. deram a vida a cabo.
um dia acaba. outro dia acabo. eu acabo um dia. do meu jeito.
eu dou meu fim ao dia.
amanhã começa. outro dia termina. tudo assim.
vai. vem. vai. vem.
as vezes volta, mas é tudo ida e volta. tudo vai e vem.
tudo o que é lá de fora. tudo o que não vem.
a mim. e a você.
o nosso nunca passa. o que é nosso sempre vem.
nunca vai. sempre vem.
e que venha cada vez mais.
que venha mais e vezes cem.
vezes eu, vezes você, vezes nós dois...
vezes o que é meu e seu. o que é vida.
o que será nosso. pra sempre.
meu e seu.
o que é nosso não vai.
o que é nosso sempre vem.