O filme te força a uma reflexão dura, real e absolutamente cruel. Não estou falando só dos morros do Rio, do tráfico de drogas, da corrupção na polícia, nada disso. O buraco é mais embaixo. Muito mais embaixo. O "lição" do filme é social, ética. É fácil protestar a morte de um jovem da classe média, de um chefe do morro. Pra isso existem ONG's e mais ONG's... o foda é mesmo é tirar chapéu pra policial. Desde que o tempo é tempo, sei que o prestígio da polícia é uma merda. E olha que tem policial na família.
Numa das cenas, um dos protagonistas, que estudava direito numa das melhores faculdades do Rio com o suor de sua testa, escuta o bando de playboys maconheiros e até "traficantezinhos" escrachando a PM do Rio. O coitado sequer tinha dito que era da PM e resolveu defender a corporação. Primeiro a elite rui, depois escutou. E calou a boca. Detalhe importante: ele era negro e pobre.
O que o "Matias" disse à sala depois que ouviu tudo calado foi: "É que vocês não sabem quantas crianças morrem para um playboyzinho enrolar um baseado. Da janela de vocês não dá pra ver...". E é nesse ponto que o filme te impõe a reflexão. Outro detalhe: os playboyzinhos trabalhavam numa ONG dentro da favela.
O tempo todo assitindo o filme e pensando no meu filho. Pensando no que já fiz pra "colaborar" com o tráfico de drogas. Tudo no longa deixa bem claro que quem "financia" o tráfico, é cúmplice. Faz você se incomodar putamente com a condição dos outros e com a sua. Olhar pro seu umbigo e perceber que ele fede mais ou como o umbigo dos outros. Incomoda. E incomoda muito.
O tempo todo vendo a aflição de policiais que acreditam que as coisas podem e TEM que mudar. Lutam com a vida pra salvar gente que merece ser salva. E matam porque precisam matar. Sinceramente: eu não faria diferente se estivesse lá. "Põe na conta do Papa". Enfia-lhe um balaço cabeça à dentro é um outro "soldado do mal" enviado pro inferno. Com a graça de Deus.
Claro... isso é um blog e estou postando aqui minha opinião para que apareça alguém que, claro, não concorde comigo. Natural. Vão me dizer que é culpa do governo, da direita, do capitalismo, do Brasil que não dá escola, que não dá saúde... todo mundo corre pro tráfico porque o tráfico garante comida na mesa. Comida na mesa, proteção e uma vidinha de merda. Bem dessas que esses brasileiros, ressalto, também corrputos e cúmplices, estão acostumados a levar. Tudo ás custas do comodismo.
É muito mais fácil aceitar que é preto, pobre e que não vai conseguir nada por isso cai no tráfico que aceitar que vai ter de batalhar que nem gladiador pra entrar numa escola mais ou menos, estudar pra caralho e precisar pagar uma faculdade depois. Comodismo. Safadeza.
Enfim... não era isso que eu ia comentar. Era pra falar do filme, mas como dá pra ver, a reflexão passa muito mais além que a história na tela. É realmente uma lição social a qual todos nós deveríamos nos ater e refletir muito a respeito. Me incluo nessa lista. Acho que não é justo pais e mães perderem filhos para um sistema que alimenta sonhos e desejos da classe mais abastada e mais suja do país: a playboyzada.
É de se pensar e se assutar ao mesmo tempo. É necessário que o país todo veja e reveja os conceitos exibidos no filme. É necessário que começemos a pensar direito e encarar os fatos de frente: temos culpa nessa merda sim. A maconha que você fuma, o pó que você enfia pelas narinas, as balinhas da rave... tudo isso financia seu medo. Paga por prazer e paga pra sentir mais medo. É foda... mas é verdade.
O problema das drogas no Brasil é assunto pra outro post. Papo de legalização e essas coisas "utópicas" são pra teses de mestrado de sociologia na USP, não pro meu blog. O que é certo é que esse é o meio de se acabar com a instituição "Comando" ou "Morro". Derruba o negócio e estatiza as fronteiras, a coca, o ecstasy, enfim... Como eu disse, deixa isso pra quem entende.
A mim restou uma imensa interrogação na cara e a preocupação com o que fazer daqui pra frente.
Ô filmezinho filho da puta!
3 comentários:
Ainda n assisti. Do jeito q sou, vou deixar pra última hora.
Vc sumiu do blog. fiquei bravo, ninguém comentava de maneira mais irada q vc.
Confesso q da minha parte, andei sem vir aqui tb...
Se bem q tenho uma boa desculpa.
Aquela história de Ricardo Feltre me deixou traumatizado. fiquei o fim de semana inteiro pensando q raios este Ricardo tem haver com bueiros q atacam filhotes de pato?
meu pai disse q ele é Corinthiano. N entendo de bola, então isso n me esclareceu muito.
Daqui pra frente vou me conectar melhor.
abraços!
Programa inevitável para o fim de semana. Depois, também darei meus pitacos.
Mas já gostei mesmo antes de ver. O diretor, Padilha, o mesmo do sensacional "Ônibus 174", é excelente.
pois é... assisti o filme, achei a imagem passada da polícia meio banalizada, é real, tudo bem, mas o conceito da história meio que protege a atitude deles.
Não acho correto torturarem um moleque, que não tem à quem recorrer, por uma informação. Como dizem por aí "se correr o bicho pega, se ficar o bicho come".
O "meu Comandante" fica com peso na consciência depois que a mãe de um "X9" foi pedir pra enterrar o filho dela, mas ele não muda nem um pouco sua atitude.
A polícia ta lá pra isso mesmo, eles também não tem pra onde correr (nem à quem recorrer) mas o filme poderia ter ido mais a fundo na questão política.
A real é que enquanto a polícia não tiver um setor de inteligência para trabalhar casos como a favela no rio, o narcotráfico, quadrilhas de sequestro... enquanto o salário de um polícial não der margens pra ele ser corrupto e a corrupção ser fiscalizada e banida da PM, essa merda toda vai continuar...
E tem outra... os "playboyzinhos" não vão parar de acender seu baseadinho por causa dos moleques que viram fogueteiros com 10 anos de idade...
Como dizia o planet hemp, não compre plante... ahhhh, mas dá muito trabalho, mais fácil comprar.
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