6.3.08

O Radiohead, a internet e o futuro da música

Faz um tempo que venho ensaiando escrever sobre algo tão polêmico aqui no blog. Pensei, repensei e pensei mais. Escrevi e apaguei uns vinte arquivos... hoje resolvi começar do zero, expressar minha opinião e simplesmente publicá-la, já que o editor chefe aqui sou eu (Humpf!).

Na capa da Rolling Stone de fevereiro:

O futuro da música pertence a Thom Yorke e ao Radiohead.

Creio que todos aqui já ouviram falar do maior bafafá do mundo da música atualmente. O Radiohead resolveu fazer o que muita gente condena e morre de medo de fazer. O álbum "In Rainbows", foi lançado integralmente via internet. E mais: sem valor nenhum.
Isso mesmo! Eles resolveram fazer o disco e disponibilizá-lo para download da maneira mais democrática existente: você paga o que você achar justo. E o mais assustador é que deu certo! Pagaram sim pelas faixas e isso já rendeu muito mais que qualquer contrato com qualquer gravadora, cerca de £1.15 por disco (R$4,20).
O sucesso do projeto que é o foco desse post. Já passei horas e mais horas na mesa de um bar discutindo sobre isso com quem entende de internet e de música. Claro, assim como em qualquer outra discussão de boteco, não chegamos a conclusão nenhuma, mudamos de assunto, bebemos mais e saímos cantando.
Só que na esntrevista o Radiohead confirmou as minhas expectativas. Na minha concepção, o Radiohead, banda de renome, de sucessos concretos, mundialmente conhecida e altamente conceituada foi oportunista e partiu pro "mercado alternativo" por saber que:

1. Alguém pagaria pela música;
2. Milhões de fãs significam milhões de dowloads - mesmo que gratuitos;
3. "Inovação" = mídia = visibilidade.

Explicando:

Ao abrir o leque pra milhões de olhos na internet e ainda oferecer aos fãs o direito de pagarem o que acharem justo, o Radiohead deu passos importantes. Um porque deixou os fãs julgarem e, dois, porque deixou que, até o menos favorecido fã vietnamita, tivesse em casa a obra da banda que tanto ama. Vão somando os pontos positivos...
Milhões de downloads no mundo todo. Mesmo que a maioria fosse realmente "free", o que realmente sustenta uma banda são os shows: milhões de dowloads, visibilidade ilimitada. Se até o fã mais miserável lá do ânus do mundo tem acesso ao disco, é muito mais provável que mais shows e mais grana apareçam para a banda.
O jeito "novo" de lançar o disco novo (redundância proposital e que eu achei interessante) realmente atraiu mais mídia para a banda. Vide que estou escrevendo esse post olhando para a capa da Rolling Stone Brasil. Em quantas outras Rolling Stone eles já não deram entrevista? Pois é... Quanto mais mídia, mais cachê. Tudo isso sobre a sombra fresca da democrática escolha da música de graça pela internet.

Agora, depois de expor MEU ponto de vista, concluo: quem arrumou essa idéia foi ou não um empresário? Foi ou não foi alguém que pensou na imagem/grana que isso causaria? Se engana quem me contradiz:

"O plano de dowload foi formulado pelos empresários Chris Hufford e Bryce Edge..."

Arrá! Sabia que isso aí não era só ideal de banda ativista. Nada contra as bandas ativistas... nem contra o Radiohead, pelo contrário.
Mas era fato que ninguém no mundo correria o risco de falir com a produção/lançamento de um disco pelo simples fato de romper com a gravadora ou de não gostar da indúsitria fonográfica, coisa que o próprio Yorke assumiu em palavras bonitinhas:

"... Se eu morresse hoje ficaria feliz de não termos seguido trabalhando com essa indústria com a qual eu não sinto conexão nenhuma..."

Estranho... não sente conexão agora, mas e nos outros seis (seis?!) discos? Ou em 1994 quando vocês e a gravadora conquistaram o mundo com "Creep"? Fala sério... nem tudo na vida pode ser movido por ideais. Muito menos ideais revolucionários, inovadores.

É fato que o Radiohead se emputecia muito com as músicas que vazavam pra internet antes de estarem prontas - agora ficou diferente. E também é fato que soltar as amarras é muito melhor que viver sob a tutela dos barões culturais. Mas não devemos encher os olhos com isso porque, ao contrário do que muita gente pensa, foi mesmo premeditado, estudado e muito bem executado. Pra se ter idéia, o Radiohead não dá números...
Como eu disse, não é minha intenção atirar pedras. Por mais que tenha sido idéia de empresário, de gente que visa mercado/mídia/grana o tempo todo, a banda teve a coragem de aceitar a proposta. Na entrevista o guitarrista Greenwood confirma o fato, mas, ao mesmo tempo, se policia: "fizemos isso porque estávamos cansados da mesmice...". E aí!? Foi só por comunismo e protesto? Não, claro que não.

Atualmente esse cenário tem estado cada vez mais conturbado. A atitude foi louvável sim porque, mesmo que tenha sido visando totalmente o "pop" do negócio, nos permitiu pagar o quanto poderíamos pagar, não o que as gravadoras entendem por justo. Foi louvável porque chegou onde os CD's não chegariam jamais. Foi louvável porque provou mais uma vez que ninguém precisa ser refém desse império negro que assola as rádios com jabás, topetes, gritinhos melosos e cabelos sebosos. Sem dúvida o Radiohead quebrou paradigamas e, quem sabe, deixou aberta a porta para mais milhões de centenas de bandas no mundo - como a minha, por exemplo.

O tempo vai dizer. Estaremos aqui presenciando a queda do império negro. E espero que o Radiohead esteja aí "nas pista" também. E que o counter do site deles tenha acusado que no Brasil tem gente que escuta Radiohead e que precisa de shows também.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu já não ia muito com a cara dos barões da cultura e suas imposições anti artísticas. Agora então, que o CD virou um cartão de visita, é que não devemos nos curvar mesmo!
É um era mais que oportuna para as novas bandas poderem vingar tantas outras que foram chutadas na latrina pelos barões da cultura simplesmente porque queriam fazer arte em primeiro lugar.
O ser humano colhe o que planta.

Dani Sanches disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Sally Owens disse...

Oi, Aldo.

Pois é, aparentemente, a Igreja Católica mostrou seu poder com mais uma carta escondida: um juiz que faz parte de uma liga católica. Quer coisa mais conservadora e retrô?! E ainda usando uma estratégia barata - "ganhar tempo" pra debater o assunto. Ainda bem que a presidente do STF foi racional, lembrando ao queridinho que o veto está para ser votado desde 2005...

Vamos ver como a história termina.

bjo!