20.10.08

...

"liberte-se", ele disse, me empurrando um pedacinho de cartolina verde água.
"que porra é essa?"
"candy."
"até onde eu sei, isso é música do Iggy Pop com a mina do B-52's."
"to falando sério. liberte-se!"
"me libertar do quê?"
"das correntes da sanidade."
"e desde quando eu uso correntes de sanidade?"
"desde sempre. esse seu jeito 'porralôca' é só uma maneira de tentar ser diferente e..."
"você força. força demais. não tento ser nada. to simplesmente voltando a ser quem eu sempre fui antes..."
"não vá culpar uma coisa ou outra pelo resto de vida que você se tornou agora. não tem essa. toma isso aí e liberte-se. vá! uma vez só e você nunca mais precisará voltar a ser o que você é agora."
"mas não me interessa nenhum pouco deixar de ser o que sou agora."
"isso porque você é orgulhoso pra caralho."
"isso porque tenho motivos pra me orgulhar, palhaço!"
"ah... faça-me o favor! deixe as pidas pra mais tarde, depois que isso dissolver na sua boca."
"não to afim, velho. é sério..."
"tá sim. você sempre tá afim de uma testadinha qualquer nos seus limites.. no fundo, no fundo, você sente prazer em ser um beberrão de primeira linha e um protótipo tosco de junkie bem intencionado. ainda faz pinta de intelectual com textozinhos baratos num blog de quinta!"
o filho da puta disse isso e riu de mim. eu peguei o troço e enfiei na boca, em cima da língua.
"isso, mané! agora espera... espera e não precisa me agradecer." - voltou a rir de mim, colocou a cartola novamente e sumiu na neblina.

(provavelmente continuará um dia.)