14.4.08

De volta à ativa...

De volta...
Escolhi a pior segunda-feira do mundo pra voltar de férias. Às 05h50, cinco minutos antes de o despertador me levantar, um trovão de uns 1500 decibéis me acordou. Sem querer eu já estava de péssimo humor.
Pensei no trânsito, no trem lotado, no bafo quente do vagão apertado e úmido, na cara de toda aquela gente sem vontade, nas poças d'água e no meu guarda-chuva quase todo arrebentado. Por pouco, muito pouco mesmo, eu já não rifei o dia todo.
Levantei, respirei, desativei o despertador, fui pro banho e fui, aos poucos, pensando nas possibilidades dessa segunda-feira dar certo. Eram poucas, me preferi acreditar que o dia seria melhorzinho...
Já na entrada, péssimas notícias. A empresa não vai como eles queriam que fosse. Tá mal. Não tem avião no mercado, nosso equipamento não corresponde às expectativas dos clientes, os vôos internacionais estavam dando prejuízo. Tudo isso fez com que acontecesse o que lutamos tanto para não deixar acontecer: cancelaram as rotas internacionais para a Europa. Perdemos tudo. Até os slots de Frankfurt que operávamos desde 1969 sem parar, a única linha que sobreviveu a tudo dentro da empresa, nossa maior receita a mais de muitos anos, será cancelada. Acabou. A Varig opera simplesmente América do Sul e Brasil. Tudo bem... ainda tenho meu emprego.
Passado o primeiro susto, veio o segundo. A irmã do Alessandro, amigo baiano com o qual passei 15 dias das minhas férias faleceu na madrugada do dia 12. Do nada. Fiquei branco... achei completamente estranho, mas, infelizmente, confirmou-se a história.
Sentei, respirei e abri o email: por um momento pensei ter resgatado o humor. Mesmo com toda essa turbulência, vão nos pagar o PPR. Sorri e respirei aliviado. Volta de férias é sempre um martírio. Essa grana me salvou... e, se pã, salvou até o show do Whitesnake.
De resto, normal. O trampo tá na mesma e tende a diminuir, uma vez que teremos menos vôos, teremos menos bilhetes. O que, por vezes, me assusta. Se for pensar racionalmente, menos vôos, menos bilhetes e menos trabalho significa menos funcionários. Mas, como nada aqui é tão lógico, deixei seguir o dia.
Não mudou muita coisa. O que mudou foi minha situação. Eu estava pesado, lento, tenso. A cada minuto aqui dentro eu diminuía alguns milímetros, me curvando com o peso de um Boeing nas costas. Foda. A ida à Salvador energizou os ânimos. Meu e do resto da família, que também aproveitou muito a viagem.
Conhecemos bastante a cidade. Vários cantos antes não explorados. Ir à Salvador fora das festas nos fez descobrir uma outra cidade. E apesar de ser o que é, essa outra cidade nem sempre é tão feliz, iluminada, limpa e alegre como conhecemos no Band Folia ou dentro das cordas do Camaleão. O buraco é mais embaixo... bem mais embaixo.
Andei de ônibus. Fui ao centro histórico, subi e desci ladeiras de paralelepípedo. Reconheci fachadas manjadas dos filmes. Fui ao Pelô, tomei cravinho e fotografei a paisagem. Vi um Pelourinho feio, abandonado, sem artistas de rua, sem Olodum, sem vida, vazio. As pessoas dizem que abandonaram Salvador de novo. Dizem que a violência está cada vez mais presente. Mãe Isabel me disse que evita ao máximo sair na rua e que, quando sai, não leva nada a não ser o extremamente necessário. Disse que tinham matado sete no bairro em que ela mora naquela mesma semana, pouco antes de eu chegar. Não tem emprego, não tem educação e, se esse surto de dengue atingir a cidade, a coisa ficará muito, mais muito feia mesmo. É triste. A visão de Mãe Isabel é a visão de muitos outros soteropolitanos preocupados. Uma das cidades mais bonitas do Brasil, que vive basicamente de turismo, largada nas mãos de políticos corruptos que não fazem questão nenhuma de retomar as rédeas. Ainda bem que esse ano tem eleição. E tomara que os baianos saibam direito o que fazer com os votos deles.
É... conheci outra cara, outros sabores, outros desgostos e, diferentemente do que acontecia quando embarcava de volta à São Paulo depois do carnaval, voltei meio triste, meio preocupado. A Bahia precisa de ajuda... e o povo de lá, PRINCIPALMENTE os artistas renomados, milionários, com apartamento na Barra, mansão em Villas do Atlântico e resort na Praia do Forte, tem que se conscientizar e abrir os olhos pra cidade fora do Campo Grande ou do Barra/Ondina. Há de se tomar atitude! Um povo que se orgulha tanto de ser o que é, se omite quando coisas desse tipo acontecem. Enfim...
Mas passei ótimos momentos, conheci pessoas fantásticas, aprendi muito, conheci praias e lugares onde jamais estive e deslumbrei com a beleza que só a Bahia tem. Ainda estou descarregando e escolhendo fotos, escrevendo alguns textos e tudo o mais. Assim que tiver coisas mais legais eu posto aqui no blog. Por enquanto, vou enchendo vocês de palavras tentando descrever as sensações desse retorno.
O blog volta a ativa finalmente!

Abraço à todos!

2 comentários:

Anônimo disse...

Opa, bem-vindo de volta, cara! E que delícia de viagem, vá contando mais!

Espero que eu possa logo conhecer a Bahia...

Laís disse...

Eu já estava com saudades desse canto aqui! Que bom que você voltou! Mas melhor ainda que tenha aproveitado a viagem, não só para se divertir, mas também para aprofundar olhares e pontos de vista.

Quanto ao trabalho, é triste ver o que aconteceu com a Varig, uma empresa do porte que ela tem (ou tinha) cair dessa forma. Desejo muito boa sorte para você e para todos que trabalham lá. Beijos!