15.3.10

Parou na saída do bar, encostou-se num canto, sob a marquise. Acendeu o cigarro meio se escondendo pra evitar qualquer segurança babaca enchendo o saco por causa da nova lei. No porre que estava, não argumentaria nada, partiria com o cigarro aceso pra cima do segurança e, sem aguentar um peido, tomaria um direto no queixo que o faria acordar com os cachorros na sarjeta. Ele já conhecia essa história.
Deu um trago, soprou a fumaça pra cima. Tentou se lembrar de quando isso parecia charmoso e quantas vezes o elogiaram sobre isso. Foram várias. Uma garota jurava que se apaixonou de vez por ele ao vê-lo recostado numa sacada, de costas, fumando. Coisas que ninguém nunca entenderá.
O cheiro dela tomou a atmosfera. Ele fechou os olhos, cambaleou, sentou-se no degrau, encostou a cabeça na parede e deixou-se levar. Durante alguns minutos lembrou do toque das mãos delas em suas costas, os mamilos rijos passeando pela nuca, os beijos na orelha, os puxões de cabelo e os arranhões que recebia. Lembrou-se de como ela dominava a situação quando ficava por cima, como olhava o sexo, o entra-e-sai ritmado e a dança que os seios faziam enquanto ele os umedecia com a ponta da língua. Lembrou de como ela acelerava o ritmo quando estava pra gozar, como ela gemia, como suspirava em sua orelha e como, sem dizer nada, se declarava, morta, farta, sobre seu corpo depois de também levá-lo aos céus.
O cigarro acabou. Fazia um pouco de frio e ele arremessou a bituca na avenida, olhou o segurança, olhou o bar, entrou e contemplou, novamente, como a vida conseguia ser tão tediosa e tão chata como era naquela noite.

Ao sentir saudade, pensou, a gente aprende. Onde será que eu deixei esse pedaço de vida, hein?!

Um comentário:

Anônimo disse...

vivo me perguntando onde deixei alguns pedaços. Bonito texto brother. abraço.
Kleber Felix