30.12.08
Adeus ano velho...
15.12.08
o que aqueles olhos escondiam? o que será que mostravam atrás daquelas lentes?
não me contive. saí de onde estava pedindo licença e vencendo com dificuldade cada centímetro quadrado daquele trem lotado. queria ao menos sentir seu cheiro; um breve resvalar de braços, quem sabe... um toque inconsciente nas mãos que seguravam firmes o apoio.
cheguei bem perto. cheirava a banho recém tomado, sabonete; tinha os cabelos ainda úmidos cheirando a xampu. a nuca exalava um aroma fresco, leve, convidativo... meio adocicado, talvez.
fiquei contemplando aquilo tudo parado ali, ao lado dela. sentei quando uma senhora se levantou e notei seus quadris esticando o tecido do vestido. a marca da calcinha, pequena, bem delicada, escondendo algo realmente precioso. tinha um belo par de pernas bronzeadas pelo sol. as coxas grossas volumosas e um tornozelo estreito, decorado sutilmente por um cordãzinho dourado com um pingente com o símbolo do OM. os seios eram sob medida. em total harmonia com o resto do corpo, davam a ela certa maestria em relação às outras mulheres naquele trem. sem dúvida reinava absoluta naquele vagão.
vacilei, deixei que a melodia da música nos fones me levasse e, chacoalhando no trem, fui longe, bem longe...
em outro lugar, bem distante dali, tirava aqueles óculos e era surpreendido por enormes olhos verdes. um verde penetrante, escuro, nada daquele verde comum, que todos os outros olhos verdes guardam. era um verde luz! intenso e profundo.
fui tomado por algo de outro mundo e, pálido, com a garganta seca e com um nó, mal conseguia pronunciar palavra alguma. nos olhávamos em silêncio, um dentro do outro; num gesto lento, pensativo, demorado, nossas bocas se encontraram.
foi um longo beijo molhado, trabalhado. me olhou nos olhos enquanto nossos lábios ainda se afastavam e disse:
fosse esse mar meu caminho
fosse esse meu coração
faria de você meu destino
e de teu amor minha salvação
atônito, palerma olhando aqueles olhos, demorei a entender do que se tratava. confesso que senti um calafrio que estremeceu meu corpo. não sabia de onde vinha aquela mulher e, nesse instante, mal tinha idéia pra onde estava indo com ela.
não sabia o que responder. mal tinha idéia do que ela quis dizer com aquelas frases. mas um ar de tristeza a envolveu subitamente. era estranho algo tão mágico se desfazer em tão pouco tempo e desse jeito tão obscuro.
o tom da sua voz, o peso das palavras, a escolha minuciosa por versos que talvez não me machucassem tanto... e aí eu entendi o que ela quis dizer.
nesse instante do sonho, a música acabou e eu abri os olhos no trem novamente. a garota que tinha me mandado pra outro lugar já não estava lá. tinha descido em alguma das cinco estações que passei dormindo. à minha cabeça voltaram cenas já vividas, frases já ditas, as cartas guardadas, as declarações despejadas numa enxurrada de sentimentos arrebatadores. tudo aquilo ali em mim de novo.
fui invadido por uma tristeza grande. a mesma tristeza das frases daquela mulher do sonho. eu havia entendido e, mesmo sem saber direito o porquê, já me via sofrendo por isso.
a "shuffle mode" do celular é meu amigo. as boas surpresas sempre aparecem nas horas mais estranhas. a próxima música veio, como num pedido, em desespero.
ah, neguinha...
deixa eu gostar de você
pra lá do meu coração
não me diga nunca não
11.12.08
Vamos todos...
5.12.08
Estômago e sexo
lembro que era um cara antipático, fresco. não se envolvia com o pessoal, não falava e não tinha emoção alguma: nunca o vi sorrindo, triste, puto da vida, nada. sempre daquele jeito. cara de quem comeu e não gostou. ou de quem não comeu. e foi com esse pensamento que comecei a fantasiar a história.
primeiro enchi de piadinhas. brincava com ela, falava de intimidades, de como fazia isso ou aquilo. e ela participava do jogo. falei que gostava de chupar muito, de enfiar a cara, sentir o cheiro e ouvir a mulher gemendo. lembro que a vi branca e levemente rosada. pensei na cor daquela xoxota. e eu enrijeci na hora.
os diálogos sujos e cheios de putaria continuaram. ela sempre dando asa. e eu crescendo cada vez mais. chegou a passar pela minha cabeça que isso era coisa de amigo mesmo e que tudo o que eu contava pra ela ela fazia à noite com o seboso. por sorte - ou não - não era bem isso...
perguntei, num outro dia, um papo mais ameno, a respeito de relacionamento mesmo, e ela resolveu abrir o jogo. nem faço idéia do motivo que a fez se abrir daquela maneira comigo.
"sabe o que é... parece que ele não curte muito, não tem curiosidade..."
"você tem que dar abertura. é chato ficar pedindo as coisas. invista no que você acha que vai agradá-lo..."
"andei fazendo coisas que eu nunca fiz e tudo continua na mesma..."
"esse cara é frouxo. pode ter certeza. negar tudo isso aí é coisa de quem não gosta mesmo..."
ela parou e ficou pensando. e aí chegou o carnaval.
depois do feriado, as hitórias voltaram. ela até chegou a comentar que tinha melhorado um pouco e tals. e eu contei o que fiz no carnaval.
"a gente tava no sofá, ela sentava em mim de costas e quando disse que ia gozar, eu a virei, soquei a cara na buceta dela e chupei, chupei até sentir que ela tremia..."
por algum motivo ela ficou quieta.
"depois ela levantou, eu fiz com que ela se apoiasse no sofá de quatro e dei as estocadas mais fortes da minha vida até explodir de um vez só. foi insano. sem dúvida a melhor trepa da minha vida..."
ela continuou muda.
eu não entendi direito. mas nesse mesmo dia recebi um sinal. e não tive como deixar quieto.
"se fosse com você, aposto que você não esqueceria nunca mais..."
"você fala tanto que dá pra desconfiar..."
"não precisa nem pagar pra ver. eu faço o quarto. só me diz que vai e quando vai."
"hoje. saio na frente, te pego na rua de trás..."
"e o meia-foda chatinho?"
"não vai ficar sabendo..."
"você é safada pra cacete..."
saí do trampo disfarçando, depois que todo mundo desceu. dobrei a esquina e o Palio verde estava lá, de vidros fechados, escuros e o ar condicionado bombando. pouco precisei pensar...
"você é safada pra cacete. não presta... e é bom conhecer gente que não presta..."
"tá na hora de saber qual é a sua..."
enfiei a mão no meio daquele monte de cabelo dourado e a beijei com sede, com desejo, com vontade. com a outra mão apertava-lhe as coxas grossas... como era gostosa! já imaginava os mamilos rosadinhos, a xoxota quente e úmida. fui enlouquecendo aos poucos dentro daquele carro.
e ela já tinha premeditado tudo! sequer pensou no caminho pro motel. foi direto, desviando do trânsito. quando paramos num farol ela olhou o volume em minhas calças, não resistiu e pegou no meu pau. pra ver o que era ou como era. olhou pra mim e mordeu o lábio inferior. cara de puta.
entramos. eu sugeri um banho, um drinque qualquer. mas nem deu tempo. ela me pegou pela nuca, me beijou me empurrou na cama, tirou os sapatos e deitou em cima de mim.
me disse tanta coisa... confesso que fiquei impressionado com a paciência que ela teve com ele. o papo que mulher insatisfeita enfia chifre mesmo é fato. bem verdade. assim como homem insatisfeito também. e até hoje não consegui decifrar quem era o verdadeiro insatisfeito da história.
essa semana ela ficou noiva. vai casar dentro em breve. talvez aquela noite no motel tenha a ajudado a resolver algum problema. ou então ajudou o cara, não sei. a libertação, o fato de encarar as coisas que eles julgavam impróprias pra dizer um ao outro, as coisas que não faziam ou não pediam porque tinham vergonha... acho que aquele chifre que o cara tomou pode ter salvado o futuro casamento dele.
eu é que fiquei meio assim. no fim das contas, a gente sempre quer mais, né!? esse papo de ser "o amante" não é tão bom ás vezes. tem horas que o que a gente mais queria era um pouco mais de dor de cabeça em relação a um relacionamento.
até nas horas mais sujas se encontra um pouco de amor.