O sol se esconde um pouquinho e eu aproveito pra acender o cigarro e comprar uma breja. Tá um calor infernal e o efeito estufa aqui em São Paulo é de foder qualquer um. Não é difícil se sentir numa panela de pressão. A coisa vai esquentando, abafando e a gente vai suando. É terrível... sinto uma falta imensa do tempo nublado, do friozinho, do conhaque com cacau, da fumacinha saindo da boca... fecho os olhos e vou longe. Ando meio nostálgico. Deve ser a idade. Falta pouco pro meu filho fazer três. Eu já virei tiozão. Já virei tiozão e me decepciono, vira e mexe, com as minhas atitudes de adolescente. Isso me cansa. Daí fugir tanto da realidade. Daí essa nostalgia. Não é só o inverno. É a vida que passou...
Sento no computador e começo a revirar páginas e mais páginas de internet atrás de velhas músicas que me lembrariam velhas situações. Mais felizes, mais ridículas... assim como todas as declarações de amor que fiz ouvindo Duran Duran, InSoc, Stevie B., New Order. Filmes e mais filmes passando na minha cabeça. Mulheres, situações, lugares, beijos, a primeira vez... tudo temperado com saudade e sorriso. A vida passando é um milagre.
Descubro coisas que eu nem sabia que eu sabia. Descobertas ao som de sintetizadores baratos... Eu rio e me emociono em parar, o tempo todo. "I promise you I will", do Depeche, "Ceremony", do New Order, "Spring Love", do Stevie B., "Come Undone", do Duran Duran... cada uma delas uma coisa diferente na cabeça. Cada batida um movimento diferente. Me sinto estranho. Quando toca "What's on your mind", do Information Society, uma lágrima escorre do olho esquerdo e eu me encho de alegria... "I wanna know what you're feeling, TELL ME WHAT'S ON YOUR MIND". Rio alto! Me satisfaço de certa forma.
Lembranças, lembranças, lembranças... por mais que eu me esforce, é difícil encontrar algo que eu saiba que me fará lembrar do que eu vivo hoje. É tudo tão vazio, inexpressivo, indiferente. Acho que alguns anos não viverão na minha memória pra sempre.