O que silencia?
Literatura de balcão...
14.2.13
eu não me auto destruo
eu não me auto destruo
isso é auto punição, é penitência
é a maneira mais doentia e mais dolorosa de encarar os fatos da vida
de encarar os erros
as mentiras
as dores
as promessas não cumpridas
no fundo de cada copo e de cada garrafa, lá está a salvação
no último gole, a certeza da confissão
quando tudo acaba e sobram cascos, cinzas, bitucas, farelo
quando a luz se apaga e a porta se fecha
quando eu me dou conta de que nada passou
que nada adiantou
me reencontro com a minha dor
e tenho certeza que ainda preciso resolver minha vida
é essa a hora que mais machuca
é nessa hora que mais aprendo
que me arrependo
e que sigo tentando aprender novamente
errante
mas seguindo em frente
7.2.13
Dez pras seis...
tem alguma coisa querendo sair de dentro de mim
mas eu não consigo saber o que é
e aí fico assim
sem conseguir ficar quieto, balançado o pé
rou as unhas, coço a cabeça
levanto pra tomar água e acabo pegando um café
me sento de volta à mesa e não consigo mais
ter paciência
ter vontade
ter coerência
ter qualidade
a cabeça dói, o estômago esfria
sinto algumas palavras socando minha barriga
não respiro
o tempo se arrasta
o trabalho não anda
o expediente não acaba
e não chega o final de semana
e não chega o final de semana
e não chega
o final
de semana...
24.1.13
Digestão (lembrança)
é impressionante a capacidade que os humanos tem de comer um ao outro sem sentir absolutamente nada. somos plenos canibais de sentimentos. mastigamos sem pudor qualquer carinho, ódio, admiração, respeito, amor, dedicação, entrega... mastigamos, digerimos e cagamos. cagamos e andamos para tudo que os outros sentem por nós e pelo que nós sentimos pelos outros.
dia desses, bebedeira infernal e lamentos corriqueiros, pra espantar a merda fresca que é a solidão naquele quartinho abafado do centro da cidade, resolvi que iria no puteiro. resolvi por resolver. não estava afim de sexo, sexo. tava afim de compartilhar qualquer coisa que ainda existisse em mim depois de tanto tempo apanhando da vida.
entrei, peguei um bourbon e me sentei no balcão. humanos do sexo feminino de diversas raças transitavam num ambiente esfumaçado, cheirando a lavanda e cigarro e mofo. umas luzes coloridas alteravam o rosto das pessoas de modo que não dava pra saber se a moça parecia a Pamela Anderson ou o Dee Snider. difícil. uma delas se sentou ao meu lado.
ficou quieta, me olhando. depois me chamou de "Grandão" e perguntou se eu não queria pagar uma dose pra ela. não importa em que lugar da galáxia você esteja, esse protocolo tem que ser seguido. ela bebeu meia dose numa golada e me encarou. pegou no meu pau, mole, e perguntou se eu queria subir. disse que ficaria por ali, conversando um pouco e pagaria outra dose se ela quisesse.
ela quis.
eu não disse duas palavras a mais e ela começou a entrar no papo. tomamos umas 3 doses cada um e ela pulou pro meu colo. me arranhava a nuca, me mordia a orelha e se esfregava em mim vigorosamente, até sentir que eu tinha reagido.
- adoro homens do seu tamanho...
- é?
- quero te chupar... vem?
- não pago.
- eu disse que cobraria? - e me arrastou corredor a dentro.
ela se ajoelhou e fez um belo serviço. um boquete sensacional, molhado, cadenciado... mordiscadas na medida certa, língua no saco no momento oportuno, engolidas até o talo sem engasgar. passava a cara no meu pau, gemia, beijava a cabeça. uma mamada completa e divina.
ela sacou que eu ia gozar. abriu o sutiã e deixou a porra banhar aqueles mamilos duros, apontando para o meu rosto. limpou tudo com a língua. eu estava intacto e pronto pra mais uma.
ficou me olhando, ainda ajoelhada.
fechei o zíper, apertei o cinto, joguei a camisa nas costas e, antes de sair, vi que ela ainda me olhava. me olhava de um jeito profundo. os olhos esperançosos, intensos. eu não soube o que fazer. hesitei. mas me virei e saí.
deixei a grana sobre o balcão, instintivamente virei pra trás e lá estava ela, com aquele rosto distorcido, os olhos intensos, negros e tristonhos, me olhando partir.
to deitado na cama e não tenho sono. os olhos dela não saem da minha cabeça.
não digeri os sentimentos da garota. espero que ela tenha digerido o que engoliu de mim.
20.12.12
Poema Angustiado
É o dia que não começa
E quando começa não acaba
É a tarde que nunca chega
E quando chega passa voando e
Traz a noite que dura dias
Horas que voam quando deveriam arrastar
E arrastaram quando deveriam voar
Dia que dura semana
Semana que dura um mês
Mês que dura um ano
E um ano que dura um século
Um século que eu não sei mensurar
Isso tudo é o medo que me dá
Só de pensar em ter que esperar pra te encontrar
14.12.12
A arte de esperar em vão - eu
A gente não consegue mesmo
se acostumar com certas coisas.
Na maioria das vezes são coisas pequenas
que crescem
inflam
incomodam
e passam a machucar
apertar
espremer
macerar e aí
dilacera.
arranca um pedaço pequeno a cada segundo
num minuto te tirou quantidade significativa
de sentimento
de auto estima
de sanidade
de paciência
e assim, no final de um dia
de todo resquício de esperança.
Vem com a chuva, mas não vai embora com ela.
Nem quando o sol ressurge e as plantas secam.
Isso continua ali e precisa ser expulso
DE QUALQUER MANEIRA.
Aí você respira fundo,
Resigna-se.
Olha em volta, engole o choro
mastiga as palavras que poderiam machucar alguém
cala-se por alguns instantes
corre prum pedaço de papel e rabisca.
Rabisca e escreve um sentimento que te devora à toa.
Ou que você alimenta à toa.
A arte de esperar em vão
É ainda mais vã quando não sabemos o que estamos esperando.
"These words I write
Keep me from
total madness." - Charles Bukowski
15.10.12
Epifania
resolvi escrever pra me sentir vivo de novo. to sufocado, desesperado,
semi-morto, completamente lúcido, amarrado dentro de mim mesmo, a maldita jaula
física que limita nossos dias, nossa maneira de viver a vida e nos acorrenta a
uma sociedade de semelhantes diferenças sutis que nos fazem um só aglomerado de
corpos, cabeças não pensantes, mentes hibernantes, caminhando todos os dias pra
lugar nenhum tentanto encontrar coisa alguma.
porque acordei de madrugada e vi meu corpo estendido, imóvel na cama, cansado, fudido e frustrado por ter de fazer o que todos fazem numa luta incessante por um sucesso parcial e controlado, um triunfo dos outros, uma vitória de todo mundo que joga o mesmo jogo, luta a mesma luta.
porque estou preso e se eu gritar ninguém vai ouvir e se alguém ouvir não vai entender porque gritar não é maneira de manifestar indignação e sim de manifestar loucura para uma sociedade doente que se julga sã para julgar os insanos.
resolvi escrever para anestesiar a dor que eu sinto.
o medo que acua.
o fracasso que persegue.
a vegonha que derruba.
o presente que me negam
o passado que me condena
o santo, o demônio
o bonito e o feio
a falta de futuro.
o brinde dos enfermos.
o começo do desespero coletivo ao descobrir que o sono que vivemos tende a ser o nosso fim.
porque acordei de madrugada e vi meu corpo estendido, imóvel na cama, cansado, fudido e frustrado por ter de fazer o que todos fazem numa luta incessante por um sucesso parcial e controlado, um triunfo dos outros, uma vitória de todo mundo que joga o mesmo jogo, luta a mesma luta.
porque estou preso e se eu gritar ninguém vai ouvir e se alguém ouvir não vai entender porque gritar não é maneira de manifestar indignação e sim de manifestar loucura para uma sociedade doente que se julga sã para julgar os insanos.
resolvi escrever para anestesiar a dor que eu sinto.
o medo que acua.
o fracasso que persegue.
a vegonha que derruba.
o presente que me negam
o passado que me condena
o santo, o demônio
o bonito e o feio
a falta de futuro.
o brinde dos enfermos.
o começo do desespero coletivo ao descobrir que o sono que vivemos tende a ser o nosso fim.
"a vida está na concretude da merda que move o mundo
a vida está na indústria impulsionada a sangue humano
a vida é comer e cagar. e logo preciso comer de novo
ou encontrar com quem fazer amor
ou participar da matança geral, ou esfolar um porco
qualquer coisa que me ponha em contato com a vida chamada real..."
a vida é comer e cagar. e logo preciso comer de novo
ou encontrar com quem fazer amor
ou participar da matança geral, ou esfolar um porco
qualquer coisa que me ponha em contato com a vida chamada real..."
Marcelo Rubens Paiva, em "Blecaute".
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